Ontem foi celebrado o "Dia de Darwin", em comemoração ao seu ducentésimo (sempre quis usar essa palavra! ) aniversário (obviamente uma comemoração póstuma, uma vez que ele já não se encontra entre nós há alguns anos). Sim, eu sei que deveria ter escrito alguma coisa, tanto pelo meu lado biólogo quanto pela minha profunda admiração pelo bom e velho Charles. Mas simplesmente não deu. Por isso ficam aqui minhas desculpas.

Entretanto, essa demora teve um ponto positivo. Passeando por algumas páginas que faziam referência ao dia de ontem, encontrei uma particularmente interessante. É uma uma ilusão de óptica (bem bacana por sinal!) de uma imagem de dois macacos que, se olhada fixamente por alguns segundos, transforma-se na imagem do rosto de Darwin quando se desvia o olhar para uma parede ou papel em branco. É um efeito visual famoso, de inversão de cores do original, chamado em inglês de afterimage (alguém tem o nome disso em português? não é persistência da visão, isso é outra coisa).

Pois bem, uma página inocente como essa acabou se transformando em uma discussão enorme entre criacionistas e evolucionistas. Na verdade, mais especificamente entre um, identificado como Nigel e os demais. Dêem uma olhada nos comentários para entender.

Enquanto lia tudo aquilo fiquei pensando em como a fé obtusa é complicada. Vejam bem, nada contra acreditar em Deus e ter alguma fé (eu tenho a minha, como já declarei aqui em um artigo anterior), mas daí a querer impô-la aos outros é demais. O sujeito simplesmente entra em um artigo falando sobre Darwin e a evolução e começa a pregar criacionismo de forma incisiva (e com péssimos argumentos). Seu primeiro comentário começa assim: "The illusion is that this type of evolution ever happened! There is no evidence that man ever evolved from monkeys." que pode ser traduzido livremente como "A ilusão é que esse tipo de evolução tenha acontecido! Não existe evidência de que o homem tenha evoluído de macacos." (o velho argumento estúpido que todo criacionista mal informado usa, diga-se de passagem). É o equivalente a alguém entrar em uma lista de discussão religiosa e falar que Deus não existe.

Fica o questionamento então: já que o Nigel não acredita na evolução, por que ele foi dar palpite em um artigo que faz uma brincadeira com a imagem do Darwin e nem estava discutindo evolucionismo (e nem criacionismo)? Extrapole um pouquinho a situação e você começa a entender onde começam tanto os pequenos conflitos ideológicos do nosso cotidiano quanto os grandes conflitos religiosos que assolam o Oriente Médio. Acreditar em alguma coisa e defender o seu ponto de vista não é ruim. O problema começa quando você começa a achar que o outro deve acreditar somente naquilo que você acredita e faz a defesa do seu ponto de vista no lugar errado. Aí é encrenca na certa.

Pra fechar o assunto indico aqui uma publicação do Thadeu Penna em seu wiki, onde ele faz um apanhado de bons links sobre o assunto, e o sítio que reuniu diversas comemorações sobre os 200 anos de Darwin, o Darwin 200. E deixo aqui meus parabéns atrasados ao grande Carlinhos. Que diria que um "passeio de navio" pelo mundo mudaria a história da ciência desse jeito, não é mesmo? 

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