É uma pena que no Latinoware desse ano (2012) vários avanços na discussão sobre o papel das mulheres na tecnologia foram jogados na lata do lixo deixados de lado, por conta de atividades paralelas à programação oficial. Nas tardes dos dia 17 e 18 foram organizados “concursos” para escolher a meninas que dançassem melhor. Mas entre os critérios de escolha estavam a idade e se elas tinham namorado. E entre as músicas escolhidas, o “repertório” variava do funk aos forrós com letras de duplo sentido. No dia 18 teve uma diferença, é que também teve uma parte masculina. Com dois detalhes. Aos homens não se perguntava se tinham namoradas e as músicas selecionadas faziam clara alusão ao homossexualismo (“YMCA“, “I will survive”  e “Robocop Gay“). Inclusive o critério de “seleção” era quem tinha maior “viadagem”.

Aí você vai falar, mas qual o problema disso? É só um farra, as meninas aceitavam dançar e até teve dança com os homens também. Mas considerar isso “só” uma farra é onde começa o problema. Não vou me alongar no problema das “brincadeiras” de conotação machista. A Lola faz isso com maestria, muito melhor do que eu. Mas acho importante destacar alguns pontos que indicam o problema.

  • Esse é um evento de software livre, um movimento que, em sua essência, deveria tratar todas as pessoas com igualdade e respeito. Colocar mulheres para rebolar e homens para dançar pejorativamente como homossexuais é o contrário disso. É reforçar estereótipos.
  • Em um evento como esse os “concursos” deveriam valorizar a inteligência e a criatividade das pessoas e não seu corpo, sua idade, seus relacionamentos nem o seu grau de “viadagem”.
  • Mostrar que mulheres são boas para rebolar e homens só podem se apresentar fingindo ser homossexuais reforça a ideia de que os homem (no sentido “macho” da palavra) tem o controle da situação e nunca é subjugado. Afinal os homens não estavam se apresentando como homens, mas sim como paródias homossexuais. Ou seja, eles não são assim, só estavam fingindo. Já as mulheres estavam no papel delas. A elas não foi pedido que agissem como lésbicas, mas como mulheres, cujo papel (na cabeça dessas pessoas) é rebolar, ser bonita e disponível para os machos presentes.
  • E o pior de tudo é tratar isso como “brincadeira”. Quando se adiciona o componente lúdico, além de desconstruir o discurso da crítica (afinal de contas, quem é contra “brincadeiras” é chato e resmungão), cria-se um precedente de que, quando é de brincadeira, vale tudo. O que me lembra uma série de “piadas” às quais não acho a melhor graça.

Portanto, acho que é hora de superarmos isso. Fazer mais do que simplesmente defender o software livre com falas, mas começar a fazê-lo também com ações. Inclusive nas cotidianas.

Atualização (21/10/2012): quero reforçar aqui, para evitar qualquer interpretação errada, que, como disse no início do texto, essas atividades que eu descrevi não faziam parte da programação oficial do evento. Eram atividades em paralelo que estavam acontecendo no espaço físico do evento. Além disso, como sei que nem sempre as pessoas leem os comentários, recomendo essa resposta que dei ao comentário do Alberto, uma vez que ela serve como complemento ao que eu escrevi aqui.

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